Mudanças hormonais, diabetes, hipertensão, gravidez, menopausa são fases que podem impactar na saúde ocular
As doenças oculares afetam desproporcionalmente mais mulheres do que homens e são variadas. Olho seco, glaucoma, catarata, retinopatia diabética, doenças oculares inflamatórias e neuroftalmológicas, são alguns exemplos. Por isso, no Dia Internacional da Mulher, data que nos propõe algumas reflexões, uma delas é sobre a atenção com os problemas de visão entre o público feminino.
“As causas básicas para essa maior suscetibilidade das mulheres ainda são pouco conhecidas. No entanto, a interação entre hormônios e suas mudanças ao longo da vida, genética, fatores ambientais e sistema imunológico está relacionada à maior incidência de doenças sistêmicas como a diabetes, hipertensão, doenças reumáticas, podem trazer danos à visão, como a síndrome do olho seco, quadro muito mais prevalente em mulheres”, explica a Dra. Samantha de Albuquerque, médica oftalmologista e consultora da HOYA Vision Care, empresa japonesa que produz lentes para óculos de alta tecnologia desenvolvidas para correção de problemas da visão.
Outro dado alarmante da Organização Mundial da Saúde (OMS), é que duas a cada três pessoas cegas no mundo são mulheres. De acordo com o “Relatório Mundial sobre a Visão” (2021), elaborado pela Organização, cerca de 2,2 bilhões de pessoas no mundo têm deficiência visual ou cegueira – no entanto, ao menos 1 bilhão de casos poderiam ter sido evitados. 11,9 milhões de pessoas têm deficiência visual moderada ou grave, ou cegueira, devido a glaucoma, retinopatia diabética e tracoma – doença típica de áreas rurais pobres, carentes de água tratada, saneamento básico e serviços adequados de saúde.
Confira a seguir algumas das fases da vida mulher e situações que podem impactar na saúde ocular:
* Alterações hormonais: entre o público feminino, as alterações hormonais, por exemplo, acarretam problemas como a ceratoconjuntivite seca que, quando não tratada, pode levar ao quadro de desconforto intenso, embaçamento visual e, em casos dramáticos, perda visual por cicatrização, infecções ou perfuração da córnea;
* Diabetes e hipertensão: o diabetes, outra doença que afeta mais o público feminino, tem como consequências o glaucoma, catarata e problemas na retina. Segundo pesquisa do fundo filantrópico Umane, 57% dos casos de diabetes e hipertensão nas capitais brasileiras se concentram nas mulheres e, nos últimos 15 anos, a prevalência do diabetes entre elas aumentou 54%. As complicações do diabetes e da hipertensão podem acarretar a retinopatia diabética e a retinopatia hipertensiva, que comprometem a parede dos vasos sanguíneos da retina, na região conhecida popularmente como fundo de olho. A retinopatia diabética pode provocar a perda da visão por sangramentos retinianos e vítreos; a hipertensiva causa desde inchaço do nervo óptico até descolamentos de retina;
* Gestação: a gravidez, por sua vez, pode trazer problemas como oscilação da refração, com miopia agravada, mudança na hipermetropia, astigmatismo e até alterações na córnea. Os cuidados nesse período devem ser redobrados. “Nesta fase, podem ser comuns visão embaçada, olho seco, reações a lentes de contato e aumento do grau de problemas refrativos preexistentes, como miopia, astigmatismo e hipermetropia”, afirma a especialista. A pré-eclâmpsia e o diabetes gestacional também podem acarretar perdas de visão. O quadro geralmente regride logo após o parto, mas existe a possibilidade de sequelas;
* Menopausa: a mulher ainda deve intensificar sua atenção à saúde ocular na menopausa. Além dos sintomas comuns, como as ondas de calor, insônia, mudanças de humor e diminuição da libido, também podem ocorrer síndrome do olho seco, sensibilidade à luz e coceira nos olhos, assim como progressão da presbiopia, glaucoma e catarata.
Adicionalmente, o público feminino ainda tem maiores taxas de doenças autoimunes, como lúpus, artrite reumatoide e esclerose múltipla, patologias que também podem levar à cegueira. De acordo com a Dra. Samantha de Albuquerque também vale a atenção ao sedentarismo e tabagismo, que pode causar problemas de visão, e à falta de vitamina A, fator que leva ao olho seco.
“O corpo feminino passa por diversas alterações ao longo da vida e os olhos também refletem esses impactos. Independentemente do momento em que esteja, além das visitas regulares ao oftalmologista, a principal recomendação para a mulher preservar a saúde dos olhos é manter um estilo de vida saudável”, orienta a especialista. Entre as demais dicas estão: não fumar, praticar exercícios físicos, adotar uma dieta adequada, não consumir bebidas alcoólicas em excesso, evitar situações de estresse, usar óculos de sol com proteção contra a radiação ultravioleta ou lentes fotossensíveis.
Caso seja identificado algum sinal ou sintoma diferente, especialmente durante a gravidez, menopausa ou por influência de outras doenças, é sempre necessário procurar um profissional da área para orientação e diagnóstico corretos.