Pesquisas já confirmaram que quase 100% dos contágios pelo protozoário unicelular Acanthamoeba, que gera lesões graves na córnea, acontecem com usuários de lentes de contato. “Um estudo recente publicado na revista Ophthalmology apontou como fatores de risco o uso de lentes reutilizáveis (quando comparado ao uso de lentes de descarte diário). Além disso, mostrou mais uma vez a relação entre lentes de contato e água, recomendando, inclusive, tirar as lentes de contato para tomar banho”, revela Dr Hallim Feres Neto, oftalmologista membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e diretor da Clínica Prisma Visão, ao ressaltar que, tomados os devidos cuidados, as lentes de contato são super seguras.
Recentemente muitos casos de ceratite (inflamação das córneas) por Acanthamoeba foram divulgados. Dr. Feres Neto explica que o ponto mais sensível desse tipo de ceratite é a sua semelhança com infecções oculares comuns, em termos de sintomas: vermelhidão, dor, sensibilidade à luz, lacrimejamento e diminuição da visão. “Isso é um problema, pois muitas vezes atrasa o diagnóstico, levando a cicatrizes corneanas que levam a sequelas visuais”, lamenta.
Por isso, a recomendação é que as pessoas fiquem atentas e cuidadosas com esses sintomas. “Se você suspeitar de uma infecção, procure imediatamente um oftalmologista, porque a ceratite por Acanthamoeba pode ser tratada com colírios, desde que o tratamento seja iniciado o mais rápido possível, para reduzir o risco de complicações”, alerta o oftalmologista. Ele diz ainda que com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, há uma boa chance de recuperação. E o tratamento, segundo ele, pode levar meses.
“É muito importante não dormir com as lentes, porque não só a ceratite por Acanthamoeba, mas diversas outras infecções encontram nesse momento uma condição perfeita para se desenvolver: umidade, calor e falta de luz”, explica o oftalmo, lembrando que o espaço entre a córnea e a lente de contato reúne tudo isso durante a noite.
Outro ambiente fértil para a proliferação de organismos são os estojos para guardar lentes de contato. “Quando você reutiliza a lente, ela fica guardada no estojinho, que fica à mercê de um uso extremamente correto para evitar contaminações”, diz Dr Feres Neto, explicando que esse estojo precisaria ser higienizado frequentemente, além de trocado periodicamente, assim como as lentes devem ser cuidadosamente limpas antes de guardar.
Enfim, procedimentos que, feitos no dia a dia doméstico corrido, podem facilmente deixar margem para “escapar” algo e acabar gerando um ambiente propício a contágios. “Quando se usa uma lente descartável, todo dia você tem uma lente nova e estéril nos olhos. Não dá tempo de infeccionar”, pontua, lembrando que interessante mesmo é poder evitar a contaminação. E, para isso, Dr Feres Neto indica as condutas básicas a seguir:
* Lave as mãos com frequência com água e sabão antes de colocar as mãos nos olhos ou manipular lentes de contato.
* Sempre use uma solução própria para limpeza de lentes de contato, que pode ser encontrada em farmácias e lojas especializadas.
* Não mergulhe lentes de contato em água ou soro fisiológico. Isso pode contaminar as lentes com amebas e bactérias, aumentando o risco de infecção ocular.
* Não durma com lentes de contato.
* Descarte lentes de contato de acordo com as recomendações do fabricante. Não use lentes vencidas ou danificadas, pois isso aumenta o risco de contaminação.
* Evite nadar em águas sabidamente contaminadas. Se você nadar nessas águas, use óculos de proteção para os olhos. E não use lentes de contato na água.
“Caso essas recomendações sejam difíceis de seguir no seu cotidiano, existem as lentes de ortoceratologia e a cirurgia refrativa, que oferecem riscos estatisticamente até menores que as lentes de contato”, aconselha o oftalmologista.