Doença que recebeu este nome porque, clinicamente, o estroma corneano central ou paracentral sofre afinamento progressivo e perda da integridade estrutural levando ao abaulamento da córnea, o que dá a ela sua aparência típica em forma de cone. O processo da doença nesta região, explica Keila Monteiro de Carvalho, médica oftalmologista, Professora Titular de Oftalmologia da UNICAMP, Coordenadora do Serviço de Estrabismo, Oftalmologia Pediátrica e Visão Subnormal do HC – FCM/UNICAMP “resulta em miopia e astigmatismo irregular o que diminui a acuidade visual (qualidade da visão). O início da doença é geralmente na adolescência, com uma progressão gradual até os 28-30 anos de idade”.
O ceratocone é uma doença ocular multifatorial complexa, isto é, ocorre por combinação de fatores como efeito de múltiplos genes e fatores ambientais. Existe associação com quadros alérgicos ou atópicos sendo reconhecido o fato de que esses fatores ambientais (alergia e consequente coceira dos olhos) levam à piora acentuada e progressão da doença.
Com a deformidade da córnea ocorre baixa de acuidade visual. Ao fazer o exame refratométrico o oftalmologista percebe que a imagem da retinoscopia (o exame que determina o grau dos óculos) não é regular, apresenta uma imagem deformada. A seguir são realizados exames mais específicos, solicitados pelo médico oftalmologista, para o diagnóstico exato do problema.
Em relação aos tratamentos para o ceratocone, Keila Monteiro avalia que “mudaram significativamente nas duas últimas décadas. O advento de novas intervenções, como o cross-linking da córnea, a colocação dos segmentos do anel corneano intraestromal e uso de lentes de contato especiais propiciam uma variedade de opções de tratamento para a reabilitação visual dos pacientes com ceratocone”.
O cross-linking corneano é realizado com objetivo de obter um efeito fortalecedor do tecido corneano e deter a progressão do ceratocone pelo uso de riboflavina (vitamina B2) combinado com a irradiação ultravioleta A (UV-A).
Quanto às lentes de contato, a oftalmologista diz que “existem hoje em dia muitos tipos de lentes especiais e a mais moderna é a chamada lente escleral que funciona muito bem com ótima aceitação do paciente e o uso dessas lentes levou a uma menor necessidade de transplantes de córnea em ceratocone grave”.
Em relação à indicação cirúrgica, Monteiro afirma que “no início são tentadas lentes de contato. As cirurgias são indicadas para diminuir a progressão do ceratocone e para regularizar e propiciar melhor visão (implante de anel intra-estromal). Não sendo suficientes para melhoria, pode-se usar as lentes esclerais em casos avançados e deixar o transplante de córnea para última opção”.
Quanto às possíveis complicações do ceratocone, Keila diz que “alguns pacientes relatam uma perda súbita de visão e algum desconforto ocular no olho afetado, acompanhados de dor limitada e injeção conjuntival. Se houver esse problema há piora acentuada da visão”.
Nos casos avançados a visão pode estar tão baixa que é considerada visão subnormal ou mesmo quase cegueira. Nesse caso será necessária a cirurgia de transplante de córnea para reverter a perda visual.
Quando a causa da doença são fatores hereditários genéticos, o ceratocone, ainda não pode ser evitado pois ainda não há terapia gênica para ela. Mas a parte decorrente das alergias que ocasionam coceira, essa sim pode ser prevenida. Com o tratamento adequado das alergias, conclui Keila, “se o paciente evitar coçar os olhos pode-se prevenir o avanço da doença. Os olhos não podem ser coçados de modo algum, pois qualquer fricção altera a estrutura delicada da córnea e aumenta o ceratocone”




