Condição que passa despercebida é motivada pelo excesso de telas e falta de atividade ao ar livre sob o sol.
A miopia, dificuldade de enxergar à distância, maior problema de visão entre crianças e adolescentes no mundo, é uma questão de saúde pública atualíssima, não para de crescer. Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, diretor executivo do Instituto Penido Burnier de Campinas, pode ser provocada por herança genética, quando a criança herda o gene de um ou de ambos os pais e também estar associada ao estilo de vida. O oftalmologista afirma que o excesso de telas e falta de atividade ao ar livre sob o sol hoje são os maiores estímulos ambientais que estão aumentando a miopia global. Isso porque, explica, o excesso de esforço visual para enxergar de perto pode causar espasmo nos músculos ciliares que movimentam o cristalino e anular temporariamente a visão de longe que fica embaçada.
Um levantamento realizado por Queiroz Neto com 360 crianças de 9 e 13 anos que chegavam a ficar até 6 horas ininterruptas usando computador ou videogame, mostra que 12% apresentaram miopia e 9% se tornaram pseudomíopes. Pode parecer muito, mas quando nossa prevalência de miopia é comparada aos 37,19% encontrados em cerca de 3 mil crianças que participaram na China, epicentro da miopia mundial, de uma pesquisa publicada no Britsh Journal of Ophthalmology sobre o risco de não oferecermos mais cuidados oftalmológicos às nossas crianças.
Liderada por Hongsheng Bi e Yuanuuan Hu, pesquisadores do hospital oftalmológico da Universidade de Shandong (China) a pesquisa também mostra que em seis meses de acompanhamento oftalmológico a pseudomiopia progrediu quatro vezes mais para miopia do que entre os participantes com boa refração.
Resultados
O levantamento na China foi iniciado com 2790 participantes de 4 a 17 anos selecionadas em nove escolas da província de Shandong e finalizado com 2328 crianças. A seleção dos participantes excluiu do estudo crianças míopes, com ambliopia (diferença importante de refração entre os olhos) ou anormalidades que podem afetar a função visual e desenvolvimento refrativo.
Dos 1680 olhos com pseudomiopia ou -0,5 dioptria, 355 ou 21,1% progrediram para miopia ante 3,8% dos participantes com boa refração
O estudo também mostra que a pseudomiopia teve maior progressão para miopia com o aumento da idade. Dos 8 aos 10 anos foi de 3,3 vezes maior. Já entre 11 e 13 anos foi 4,07.
Tratamentos
Para quem quer se livrar dos óculos e lentes de contato e aproveitar o verão, a praia e os esportes, mas por algum motivo médico não pode passar pela cirurgia refrativa Queiroz Neta ressalta que uma boa opção é a lente ortoceratológica que aplana a córnea durante a noite e proporciona boa visão durante o dia.
O uso de lentes de contato ou óculos com arcos concêntricos invisíveis também são uma boa opção para impedir que o grau da miopia entre crianças ultrapasse 6 dioptrias e cause doenças que podem cegar como aretinopatia mióptica, descolamento de retina, glaucoma e catarata.
Prevenção
Queiroz Neto chama a atenção para o fato de muitos pais não terem o hábito de levar as crianças ao exame oftalmológico. A pseudomiopia pode ser eliminada com mudança de hábitos. As principais dicas do oftalmologista nas telas são:
* Descansar os olhos a cada 20 minutos olhar por segundos ponto para um ponto a 20 pés ou 6 metros de distância
* Praticar atividades físicas ao ar livre sob a luz do sol que fortalece as fibras de colágeno da córnea e da esclera (parte branca do olho) por estimular a produção de dopamina.
* Evitar o consumo exagerado de açúcar que aumenta a produção de insulina e por isso no crescimento do eixo óptico que é maior no míope.
* Piscar voluntariamente diante das telas para lubrificar mais os olhos.
* Evitar o uso de colírio por conta própria ou compartilhado com outras pessoas.